As Jovens Monitoras Culturais Beatriz Fernandes e Luana Alves da Silva exploram os artistas e obras modernistas nos seus PIACs.


Por Maíra Brandão

Dois mil e vinte e dois. São tantos números 2 juntos que alguém poderia recomendar observar a numerologia. Mas para além dos dígitos, o ano em que estamos traz os seus grandes marcos e junto a cada um deles, as reflexões compatíveis com o tempo presente. Se em 1822 proclamava-se a independência do Brasil em relação à coroa portuguesa, em 1922 a Semana de Arte Moderna (SAM) propôs um rompimento com o padrão cultural acadêmico e o início da busca por uma identidade artística efetivamente brasileira. Duzentos anos depois do primeiro e um século depois do último acontecimento, cá estamos nós às voltas com as perguntas sobre o que mudou e ainda precisa mudar no imaginário coletivo nacional. 

No Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC), além de a Semana de Arte Moderna ter sido tema de formações teóricas, alguns participantes se sentiram motivados a trazer o tema e as respectivas contemporaneidades para os seus Planos de Intervenções Artístico-Culturais (PIACs), iniciativa realizada nos territórios de atuação dos Jovens Monitores Culturais (JMCs) continuístas, como projeto de conclusão de curso. É o caso das jovens Luana Alves da Silva, que atua na Biblioteca Marcos Rey, situada no Jardim Umarizal, e Beatriz Fernandes da Silva, que desenvolve suas habilidades práticas na Biblioteca Amadeu Amaral, localizada na Vila da Saúde. Coincidências à parte, os dois espaços de livro e leitura são reconhecidos também como Centros de Referência do Novo Modernismo, ou seja, que procuram estabelecer conexões com diversas expressões culturais periféricas atuais. 

Luana, que prefere ser chamada de Lua, contou que a literatura periférica já a instigava bastante, e na profusão de ideias sobre o seu projeto, foi estimulada pelo seu agente de formação, Ewerton Correia, a combinar duas coisas que ela já tinha pensado: promover um Clube de Leituras, considerando a possibilidade de realizar as atividades virtualmente, como medida de prevenção contra o coronavírus. O PIAC da jovem terá pelo menos quatro encontros, entre março e junho, durante os quais ela pretende abordar artistas e obras do modernismo e do novo modernismo, não só da literatura, mas também apresentar um pouco do contexto histórico. “Eu acho muito importante, principalmente na Semana de 22, demonstrarmos os fatos que antecederam o movimento”, explica a jovem, que também é estudante de História.

Para ela, o empenho dos modernistas de outrora continuam fazendo sentido na atualidade. “O modernismo deixou como legado essa busca por uma identidade brasileira, uma identidade que faça sentido pra gente, e eu acho que o novo modernismo é isso. Ainda mais quando a gente fala de uma biblioteca que está inserida numa região periférica, como é a Marcos Rey, no Campo Limpo. São coisas que conversam entre si e fazem sentido pra mim, ir pro território em que eu atuo”, comenta Lua.

Já para Beatriz Fernandes da Silva, a Bia, a ideia surgiu do desejo de dar mais visibilidade para o Centro de Referência do Novo Modernismo, para além do espaço expositivo, ampliando o conhecimento sobre as obras e os artistas que integraram o movimento modernista. Após dialogar com o gestor do espaço, a JMC começou a produzir conteúdos para as redes sociais. “Tem muita gente que não conhece, tem quem gosta e quer rever, então eu sempre tento fazer uma publicação sobre o autor, com alguma frase, poema, ou alguma parte de um livro, e depois eu falo sobre um dos livros do escritor”, diz Bia.

A jovem, que também faz faculdade de Direito, entende que a iniciativa pretende também valorizar o esforço de uma época e trazer para o contexto da atualidade. “Esses autores foram muito importantes pra que a gente pudesse ter a criação e consolidação desse movimento. Ainda mais porque no começo o modernismo não foi aceito, eles tiveram que lutar muito pra que as pessoas aceitassem, levassem a sério, outro tipo de arte que não fosse a padrão da época, que era considerada certa. Só que a arte não é isso, não tem que ter um padrão. A arte é uma maneira de expressar e quem sou eu pra falar que a maneira de expressar está errada”, reflete Fernandes. 

Pra quem quiser saber mais sobre os PIACs das jovens, podem procurar nas redes sociais pelas Bibliotecas Marcos Rey e Amadeu Amaral. Já sobre o Novo Modernismo, estão disponíveis informações e debates no portal 22mais100.

JMCs se inspiram no centenário da Semana de Arte Moderna para atuar em seus territórios
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