Ao longo das duas últimas semanas, JMCs tiveram a oportunidade de terem formações com Ifè Rosa OADQ, que, além de gestora cultural e escritora, também se aponta como “pretagoga”. Em suas formações, ela tratou sobre dois temas chave, “escrevivência” e “oralitude”, e nos explicou o que significam os termos:
“‘Escrevivência’ é um conceito da Conceição Evaristo, que trata da escrita de uma vivência, mas é importante não esvaziar esse conceito. É uma escrita que tem a ver principalmente com as experiências das pessoas que têm a sua narrativa, a sua vivência deslegitimada ou até mesmo apagada.
Pensar na literatura a partir desse conceito é entender essa escrita como uma escrita política. É uma escrita que vai trazer autonomia, identidade e, a partir disso, a gente pode ter uma leitura não só do indivíduo, mas também da coletividade. Quais essas vivências? Quem são as pessoas protagonistas dessas histórias? E isso é algo que ela traz como cerne, essa escrita coletiva. O conceito da Conceição Evaristo é sobre isso.
Já ‘oralitura’ é um conceito da Leda Maria Martins, que vai trazer a oralidade como também uma produtora de conhecimento. A oralidade tendo a mesma força da palavra escrita. E esses dois conceitos, escrevivência e oralitura, estão muito presentes, por exemplo, na obra da Carolina Maria de Jesus. A partir da sua escrita, a gente consegue ter um panorama do território, do tempo, do lugar, das possibilidades que ela trazia nos seus livros. Nessas formações, Carolina Maria de Jesus aparece como a prática desses conceitos da Leda e da Conceição Evaristo.”
Além da parte teórica, Ifè também propôs uma atividade prática, possibilitando que JMCs desenvolvessem uma história levando em consideração esses conceitos de escrevivência e oralitura. O jovem monitor Eudes Evangelista conta como foi:
“A professora propôs uma atividade em que a gente ia dar continuidade a uma história que havia sido escrita pela autora Carolina Maria de Jesus e a gente tinha que encontrar uma outra forma de terminar essa história de um jeito que não fosse trágico. A gente tinha que encontrar outros caminhos, outros trajetos, evitando um roteiro tão difícil. Achei muito bom. Foi interessante observar por que cada um trouxe uma proposta diferente. Alguns trouxeram um pouquinho da perspectiva da sua vida, outros já caminharam para dar seguimento à história mesmo. Foi importante ela ter trazido um pouquinho desse passado para o nosso presente.”
A professora Ifè concluiu sua entrevista explicando seus objetivos ao abordar os conceitos de Conceição Evaristo e Leda Maria Martins em suas formações:
“A ideia é que as pessoas se aproximem do conceito da escrevivência e se aprofundem nele, entendendo que ele é uma experiência coletiva preta, que vai falar das questões sociais, raciais, de gênero, mas também se permitam escrever, porque, como diz Conceição Evaristo, a escrita é um direito. Então hoje a gente vai ler, a gente vai escrever e a gente vai se ouvir e compartilhar essa experiência que é coletiva, mas que também diz do individual nesse lugar sensível de se narrar.
Porque se a gente não se narra, a gente é narrado.”
ifè rosa oadq
Como apontado pela professora, escrevivência e oralitude se configuram como ferramentas poderosas de transformação social, cultural e individual. Ao abordar este tema, o programa contribui para a construção de uma sociedade mais plural, democrática e justa, onde todas as vozes têm a oportunidade de serem ouvidas e valorizadas.