Rachele Becker, jovem monitora em formação continuada, desenvolveu ações voltadas para a saúde feminina no Centro Cultural Vila Formosa
O Programa Jovem Monitor/a Cultural é composto de jovens monitores por toda São Paulo, atuando nos equipamentos culturais públicos e criando eventos e ações. Essas movimentações deles/as tratam dos mais variados temas dentro do mundo da cultura e ligam esse universo com muitos outros. Rachele Becker está em sua segunda edição do PJMC e atua no Centro Cultural Vila Formosa. A jovem decidiu, em seu projeto “Saúde na Formosa”, falar de algo que ela não via nos equipamentos paulistanos: “Eu senti que era meu dever – senti que eu precisava trazer a intersecção entre a saúde e a cultura nos meus projetos”.
Formada em psicologia, Rachele, junto com Rosângela de Assis e Floriana Bertini, profissionais da área de saúde, organizou uma roda de conversa sobre prevenção do suicídio. Sua ideia era organizar um espaço de diálogo tratando de muitos assuntos, uma vez por mês, começando em setembro, mês em que mais se discute a saúde mental devido ao Setembro Amarelo. Além da roda de conversa em que os frequentadores se abriram sobre sua relação com a depressão ou o suicídio, a jovem e Rosângela, que é arte terapeuta, organizaram a customização de máscaras, para que a pessoa pudesse reproduzir a forma que ela própria se via.
Nesse evento, um dos momentos que a marcou foi o relato de uma senhora sobre sua filha que batalhava com depressão e a sua própria batalha com auto-estima. “Foi ótimo que ela começou a ver pontos positivos na vida”, Rachele conta, “O assunto era suicídio e depressão, mas o que eu queria era trazer vida para quem estava lá”. Essa sua primeira roda de conversas foi aberta para o público geral, mas nas próximas a jovem focou no público feminino, oferecendo discussões e informação sobre a saúde e corpo femininos.
Com o incentivo da equipe do centro cultural, Rachele continuou seu projeto e organizou rodas de conversa que ressaltavam a saúde feminina, tabus e a menstruação. Esses assuntos foram escolhidos com base nas rodas que ela mesma frequenta, onde aprendeu sobre eles e sobre ginecologia natural, que foi o assunto específico de um dos eventos. A jovem credita seu interesse à sua irmã, Rebecca Becker, que fez um TCC sobre menstruação para seu curso de fotografia, no qual descobriu sobre a ginecologia natural. Rachele acompanhou sua irmã e estudou essa forma de medicina natural junto a ela.
A jovem desejava unir a saúde física e mental femininas, devido à sua formação superior, e ela encontrou a maneira de fazer isso na ginecologia cultural – que conseguia dialogar também com o tabu que circula a questão do corpo e da sexualidade da mulher, especialmente em relação à menstruação. “Essa situação do nojo da menstruação e a raiva da minha TPM sempre me marcou muito”, Rachele narra, “Eu vi esses eventos como uma forma de mostrar para as mulheres, inclusive para mim mesma, a mentira que era esse tabu”.
A cura para essa forma de pensar de Rachele foi conectada à experiência que teve com sua mãe, que, em 2018, sofreu com um câncer de útero. A jovem, durante esse período, percebeu a raiva que sua mãe e outras mulheres tinham do seu corpo – o que fez ela repensar o seu relacionamento consigo mesma. “Eu lidei com a doença de minha mãe e conheci as histórias delas – que me inspiraram a desenvolver uma nova relação com meu corpo”, ela fala sobre esse momento, “Sinto que curei junto com minha mãe foi uma cura familiar”.
Com isso em mente, Rachele planejou eventos para transmitir essa lição para outras mulheres usando técnicas da ginecologia natural. Uma delas foi o amuleto do ventre, utilizado na ginecologia natural como uma proteção ao órgão, que as frequentadoras criaram em uma das rodas de conversa – “É como se fosse um rosário – uma maneira de proteção mas também de ser guardiã do seu próprio corpo”.
O espaço do Centro Cultural Vila Formosa a deu a oportunidade de criar ações que a conectaram com sua herança familiar. As rodas de conversa sobre ginecologia natural a mostraram a maneira como as mulheres de sua família se relacionavam com o corpo, mas foi o evento com o grupo de teatro do vocacional no equipamento que mais contribuiu nesse aspecto. A jovem acompanhou as senhoras nordestinas que formam o coletivo teatral durante um mês e Rachele, como descendente de mulheres do Nordeste, se identificou com elas – “Eu me reconheci nas memórias delas, na visão delas e nas suas experiências”.
O acompanhamento resultou em uma exposição de fotos tiradas por Rachele e sua irmã, Rebecca, das senhoras desse grupo – intitulada de “As Marias do Nordeste”. Esse projeto compôs as ações da jovem no centro cultural e no PJMC – e fez parte do seu objetivo de misturar saúde mental, física e a cultura nos seus eventos, voltados ao público feminino. Atualmente, com a pandemia, a jovem está produzindo lives para o Instagram do Centro Cultural Vila Formosa, continuando essas suas rodas de conversa na plataforma online. “Descobri o meu orgulho – da minha história, minha força e da minha memória”, ela narra, falando sobre o aprendizado que ela mesma teve com seus projetos.