Com grande alcance e engajamento, a FLINO ensinou importantes lições sobre produções culturais e articulação territorial.
De 2 a 5 de dezembro, aconteceu a primeira edição da FLINO, Festa Literária Noroeste, para celebrar as atuações culturais e dar visibilidade às potências literárias do território. Durante esses quatro dias, aconteceram mais de quarenta atrações, incluindo saraus, apresentações de teatro e até lançamentos de livros, online pelo perfil do Facebook e canal do Youtube da FLINO. Por trás desse evento, trabalharam gestores/as das bibliotecas da região, articuladores/as culturais, artistas e jovens monitores/as – “Foi uma festa de todos”, diz Patrícia Marçal, gestora da Biblioteca Pública Municipal Érico Veríssimo, “Não fomos só nós [os gestores] que criamos ela, foi uma construção coletiva do território Noroeste”.
Na Biblioteca Pública Municipal Brito Broca, em maio de 2019, os/as gestores/as Sandro Luiz, desse equipamento, Patrícia Marçal e Maria Elizabeth (Beth) Pedrosa, da Biblioteca Padre José de Anchieta, e os/as coordenadores dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) da região começaram a dar forma a uma festa literária focada na região Noroeste, o que viria a ser a FLINO. “Nada sozinho é fácil, tínhamos consciência que idealizarmos uma festa literária focada somente nas nossas visões como bibliotecários não era possível”, narra Sandro sobre esse primeiro momento, “então aumentamos a nossa articulação territorial e envolvemos cada vez mais atores culturais do território todo”.
Planejada para abril de 2020, o evento estava organizado para acontecer em formato presencial e com atrações simultâneas em muitos equipamentos culturais. Foi no final de 2019, que os/as gestores/as decidiram também convidar seus/suas jovens monitores/as culturais para, voluntariamente, envolverem-se com a FLINO. Uma dos/as jovens que decidiram fazer parte desse evento foi Danubia Libório, continuísta da Biblioteca Érico Veríssimo, e ela fez parte dessas reuniões para produzir o encontro presencial enquanto ainda era possível, e comentou “Acredito que o que mais me encantou no projeto foi o fato dele ser feito pela Noroeste para a Noroeste, inclusive com muitas potências do meu bairro, o Jaraguá”.
No entanto, com a pandemia e a pausa nas atividades presenciais durante 2020, os planos para a FLINO também foram alterados – devido à falta de financiamento, a ideia do evento ficou parada de abril até setembro deste ano. Em agosto, porém, o conselho do PMLLLB (Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca) entrou em contato com o Sandro: “Eles me contaram que estavam articulando com outras festas literárias de tentar conseguir verba para produzir esses eventos e me questionaram se a gente faria a FLINO”, ele narra esse episódio, “depois disso corri para falar com a Beth e a Patrícia”. Com essa nova idealização, começaram a readequar o evento inteiro para o formato online e, em apenas dois meses, conseguiram criar a FLINO que aconteceu em dezembro.
Com inscrições voluntárias dos artistas e atrações, a equipe por trás decidiu incluir todos que participariam da versão presencial na remota e organizar de maneira que todos pudessem mostrar a sua ação cultural no tempo necessário. Nesse momento de reorganização, os/as gestores/as convidaram seus/suas jovens da edição 2020/2021 para participarem da FLINO, dando oportunidades para trabalharem com a divulgação e produção do evento. A ingressante Ana Carolina da Biblioteca Brito Broca se focou na comunicação e conseguiu inúmeras novas experiências, responsabilizando-se pelas redes sociais da festa e pela divulgação dos muitos artistas que participaram dela. “Acredito que a possibilidade de conhecer potências culturais do nosso território foi fundamental para minha passagem pelo programa”, diz ela.
Ao mesmo tempo que houveram jovens junto com Ana na comunicação, alguns decidiram auxiliar na produção do evento – contatando os artistas participantes, checando a qualidade dos vídeos que já estavam gravados e subindo eles no YouTube e Facebook, e auxiliando no backstage das muitas lives. Michele Sousa, da Biblioteca Padre José de Anchieta, foi uma dessas que estava na produção e comenta: “Amei entrar em contato com os artistas e dar suporte a eles – acredito que seria algo que faríamos no presencial e foi transferido ao online”. Formada em Ciências Sociais, a jovem já conhecia a FLINO desde antes de ingressar no programa, mas a possibilidade de se envolver ativamente foi importante para ela como moradora do território e jovem monitora.
Também parte da equipe de produção, a jovem Danúbia já conhecia muitos artistas que participaram da FLINO e se sentiu muito orgulhosa de poder fazer parte de um evento que mostra a potência cultural da região Noroeste: “Não precisamos trazer cultura de fora para aqui dentro, já temos muita cultura para expor para lá fora”. Ao entrar em contato com os artistas, ela conseguiu conhecer novos nomes e também conversar com alguns que sempre teve vontade de contatar. Junto com ela, Michele também vê a FLINO como uma potência, especialmente da juventude da Noroeste, e explicita a oportunidade que o evento proporcionou de criar vínculos com outros/as jovens, comentando: “Conhecer meus colegas da minha região torna o programa ainda mais palpável – foi uma troca extremamente agradável entre nós jovens”.
Agora, com o fim dessa primeira edição do evento, os/as gestores/as e os/as jovens compartilham todos/as do orgulho de ter participado de uma festa literária de tão grande porte, conseguindo mais de 75.000 visualizações nos quatro dias. Além disso, a FLINO também ensinou muitas lições a quem participou dela, seja como espectador ou como parte da organização e supervisão. “A FLINO me ensinou a organizar o meu território e perceber quem está articulando e produzindo cultura na Noroeste”, diz Ana Carolina sobre um de seus aprendizados. Os/as gestores/as também acreditam que os seus/suas jovens aprenderam muito, “Se a FLINO não ensinou, deveria ter ensinado, a humildade – porque é importante que saibam que não construímos nada sozinhos”, fala Sandro, enquanto Beth afirma, puxando inspiração do educador José Soró, homenageado da FLINO “Espero que todos os jovens tenham aprendido a perseverança e a possibilidade de mudar o mundo – como o Soró nos ensinava”, e Patrícia finaliza: “Eles e elas entenderam que o nosso território é formado pelo diverso, a diversidade cultural é o que constrói a Noroeste”.