Conheça um pouco da história do ex-Jovem Monitor Cultural Victor Brum e como as trocas entre gestor e jovens proporcionaram vivências pra carreira e pra vida.
Por Maíra Brandão
Imagine um casarão-escola construído em 1924, que teve sua finalidade transformada ao longo de quase 100 anos e, tombado, reencontrou a sua essência educativa por meio da cultura. Foi nesse ambiente de convivência entre patrimônio e contemporaneidades da Casa de Cultura Casarão Vila Guilherme que o ex-Jovem Monitor Cultural (JMC), Victor Brum aprendeu e colocou em prática muito do que sabe hoje em termos de produção cultural. Morador do Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo, músico e rapper, o jovem contribuiu com a criação de um acervo digital de ações culturais realizadas no espaço.
Ingressante no Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC) na edição 2019-2020 e continuísta em 2020-2021, Victor juntou-se aos aos JMCs que atuavam no equipamento na mesma época – Adriano Freitas, Alexandre Ramalho, Aline Borgato, Andressa Pimentel, Jéssica Ayara, Helena Araújo e Neyson Cézar – e desenvolveu o projeto “Memórias Casarão”, a fim de reunir e preservar todos os registros possíveis de oficinas e apresentações realizadas no equipamento. “A gente partiu dessa ideia de fazer um resgate e de ter esse referencial, até pra outras pessoas poderem compartilhar tanta coisa que acontece no Casarão, que é um equipamento público muito importante pra Zona Norte, e que merece todo esse carinho mesmo”, recorda Brum.
A partir do acervo baseado na história, com a chegada da pandemia e a necessidade de adaptação pela qual todo o mundo precisou passar, o gestor do Casarão Vila Guilherme, Juninho Sendro, bolou uma solução criativa junto aos JMCs: o Festival #FicaemCasarão. A iniciativa reuniu os conhecimentos disponíveis na casa e a vontade de aprender e realizar de cada um, possibilitando dar continuidade ao processo de formação dos jovens, garantindo o funcionamento das atividades do Casarão e permitindo ainda a circulação e fruição das iniciativas culturais, durante a pandemia.
Victor conta que a ideia surgiu a partir da necessidade de garantir qualidade do conteúdo para compartilhamento nas redes do equipamento cultural e também de comprovar a execução das apresentações realizadas pelos artistas. “Esse processo foi muito louco, porque nasceu dessa necessidade mesmo. No meio da pandemia a gente tinha que ter registro dos artistas, a gente tinha que comprovar que eles estavam ali na programação, que fizeram o rolê acontecer, só que muitas vezes esse registro vinha numa qualidade ruim… Então a gente gravava, editava, fazia a pós-produção de áudios e vídeos, divulgação, transmissão nas redes sociais, produzia vinhetas”, explica o jovem.
O gestor da Casa de Cultura diz que com o passar do tempo, percebeu como a iniciativa foi importante também para os artistas. “Inicialmente queríamos um produto de qualidade para as redes e também aproximar o público do espaço, naquele momento em que tudo era virtual, mas logo a gente viu o quão importante era esse material e o quanto isso custaria caro pra um artista, principalmente aquele que está começando a sua carreira, um artista periférico. Hoje temos o Youtube como um importante espaço de registro do Casarão, portfólio para a casa, para os jovens e para os artistas, desse trabalho construído em conjunto”, diz Sendro.
Juninho conta ainda que o envolvimento dos JMCs possibilita trocas importantes para o espaço, para os artistas que por lá passam e para os próprios jovens. “Aqui na Casa de Cultura Casarão o fluxo de atividades é bem grande, então, ao mesmo tempo em que a gente tem demandas cotidianas para serem cumpridas, os jovens também são estimulados constantemente a explorarem e experimentarem de tudo um pouco da produção que é feita na Casa de Cultura. E a partir do momento em que cada um se identifica com alguma linguagem específica, com alguma área específica, a gente acaba estimulando essa experimentação com foco, que explore, estude. Então é isso, a gente tem a oportunidade de experimentar e trocar muita coisa aqui, é super bacana. Eu vejo que a gente tá formando jovens que são super profissionais, são jovens que saem com uma capacidade incrível de, inclusive, gerir equipamentos”, relata Sendro.
Para Victor, que atualmente está com 25 anos, essa foi uma experiência próspera, de muitas trocas e aprendizados. “As maiores lições que eu aprendi foram as práticas e vivências dentro do Casarão da Vila Guilherme, com o gestor, Juninho Sendro, com o Kleber Marques, técnico de som do Casarão, e com os outros jovens monitores, ingressantes e continuístas, que chegaram cada um com suas habilidades”, e prossegue, falando sobre seus planos para o futuro, “Com esse empurrão que o PJMC me deu, meu foco é arranjar outros trabalhos, seja uma produção de áudio, de vídeo ou fazer um mestre de cerimônia, pra que eu consiga me sustentar. E também lutar pela cultura, acho que isso é muito importante. No Templo Negro, grupo de rap em que atuo, eu posso me expressar musicalmente, e pretendo chegar no ouvido das pessoas, e também no corpo, com a batida, com o ritmo”, fala Brum.
Enquanto isso, o Festival, que teve 45 apresentações artísticas gravadas, começou a ir ao ar no canal do Youtube do equipamento, em janeiro de 2021 e segue lançando episódios inéditos. Acesse a playlist do Festival #FicaemCasarão para conferir.