Em uma cidade como São Paulo, onde diferentes mundos coexistem lado a lado, a ideia de circular, de explorar os diversos territórios culturais que a metrópole abriga, se torna uma poderosa ferramenta de aprendizado. Este conceito está no centro de uma formação do Programa Jovem Monitor Cultural chamada Circula. Criadas para proporcionar aos Jovens Monitores Culturais (JMCs) novas perspectivas e experiências no campo da formação artística, as ações formativas propostas têm se destacado por sua abordagem de valorização da produção local e da vivência das culturas e práticas comunitárias.
O Circula não é apenas uma ação educativa, mas uma experiência imersiva que convida os participantes a se conectarem com os saberes e as produções culturais de diferentes partes da cidade, muitas vezes pouco acessadas pelo grande público. E uma das expressões culturais mais representativas desse movimento de valorização é o trabalho do Grupo Batakerê, uma referência quando o assunto é a celebração da cultura popular brasileira e suas diversas manifestações, no lado Leste da cidade.
Batakerê: Cultura Popular, Arte e Territorialidade
No coração do Espaço Cultural Batakerê, a formação cultural ganha contornos profundos, que dialogam diretamente com a história e as tradições da Zona Leste de São Paulo. Desde o ano 2000, o grupo, sob a direção do artista Pedro Peu, tem se dedicado a pesquisar, preservar e difundir as danças, músicas e brincadeiras da cultura popular brasileira, com um foco especial nas heranças afro-brasileiras.
A produção artística do Batakerê tem sido um pilar fundamental para fortalecer e enriquecer a cena cultural da periferia paulistana, trazendo à tona as expressões locais que muitas vezes permanecem invisíveis na mídia ou nas grandes instituições culturais da cidade. Além de se apresentar em diversos palcos, o grupo também se dedica à formação de jovens através de oficinas e atividades que promovem o encontro entre tradição e inovação, sempre com uma forte conexão com o território e suas comunidades.
As formações teóricas no Espaço Cultural Batakerê oferecem aos jovens monitores a chance de vivenciar de perto o processo de criação e a produção cultural que envolve o grupo. A experiência vai além da teoria: ela é vivenciada por meio da prática, com imersões nas manifestações culturais, nas histórias que sustentam cada movimento e cada canção, e no entendimento de como a arte pode transformar e fortalecer as comunidades.
Território e Cultura: A Relevância de Pensar Local
A ideia de “territorialidade” presente nas ações do Circula tem um significado profundo. Em São Paulo, como em muitas grandes cidades, há uma pluralidade de universos, de microculturas que coexistem, muitas vezes sem se conectar. Circular por esses territórios, explorar e aprender com as produções culturais locais, permite que as novas gerações de artistas e educadores compreendam o valor dessas manifestações e sua relevância para a construção de uma identidade coletiva.
No contexto do Batakerê, isso se traduz em uma pesquisa constante sobre a herança afro-brasileira e nas formas como ela se expressa nas periferias da cidade. A produção cultural do grupo vai além de um exercício artístico; ela se configura como um instrumento de resistência e afirmação da cultura de raiz, contribuindo para a preservação de saberes ancestrais e para a promoção da inclusão e da diversidade.
Ao longo dos anos, o grupo tem sido um ponto de encontro entre o passado e o presente, entre as gerações, e tem influenciado positivamente muitos jovens da comunidade local. Por meio dessas formações, muitos JMCs têm se tornado agentes ativos na preservação e disseminação da cultura popular brasileira, levando adiante as tradições e criando novas formas de expressão artística que dialogam com o contexto atual.
A Importância da Formação Cultural para as Novas Gerações
O impacto das ações formativas no espaço Batakerê vai além da simples transmissão de conhecimentos. Elas oferecem aos jovens a oportunidade de se tornarem protagonistas de suas próprias histórias, conectando-se com sua cultura e suas raízes de uma maneira transformadora. Ao mesmo tempo, esses jovens se tornam multiplicadores dessa riqueza cultural, contribuindo para a revitalização e fortalecimento de suas comunidades e para a ampliação do acesso à arte e à educação cultural.
Em tempos de grandes desafios sociais e econômicos, iniciativas que instigam a ocupar a cidade de forma abrangente são fundamentais não apenas para a formação de novos artistas, mas para o fortalecimento de uma identidade cultural rica, diversa e vibrante, que é a cara da periferia paulistana e que resiste com garra e criatividade. Ao promover a cultura como um instrumento de empoderamento e reflexão, essas ações formativas reforçam a importância de olhar para o território com um olhar atento, que sabe reconhecer o potencial transformador que reside nas produções locais e no fazer cultural das comunidades.
A Arte Como Ferramenta de Resistência e Transformação
O Circula, ao pautar a cultura e as artes produzidas por grupos como o Batakerê, reafirma a relevância da formação cultural na construção de uma sociedade mais justa, plural e inclusiva. Através da valorização das expressões locais e da conexão com as raízes, é possível não apenas preservar o patrimônio cultural, mas também construir um futuro mais consciente e engajado com as questões sociais e territoriais.
Em São Paulo, cidade de múltiplos mundos, a arte e a cultura têm o poder de conectar pessoas, histórias e lugares, mostrando que, ao circular pela cidade e conhecer suas diversas facetas, podemos fortalecer o tecido social e garantir que as vozes das periferias sejam ouvidas e respeitadas.