O ex-Jovem Monitor Cultural conta sobre seu período dentro do programa, suas contribuições anteriores no CCJ e sobre o processo de contratação para seu novo emprego
Por Pedro Paulo Furlan
O mês de março trouxe muitas mudanças para Thiago dos Santos Silva, ex-jovem monitor cultural, desde sua contratação como oficineiro no Centro Cultural da Juventude (CCJ), espaço onde atuava, até seu desligamento do Programa Jovem Monitor/a Cultural. No começo de março de 2021, Thiago foi contratado no CCJ como professor de uma nova oficina no espaço cultural, a de dramaturgia, e, por consequência, teve que se desligar do programa. “Eu brinquei com algumas amigas minhas, que ainda são jovens monitoras, que a gente pode sair do PJMC, mas não deixamos de ser JMC da noite para o dia”, conta Thiago sobre fechar esse capítulo em sua vida, continuando: “minha cabeça ainda está dentro dessa posição, estou me acostumando à novidade”.
O jovem ingressou no programa na edição de 2019/2020, já tendo contato com o CCJ, porém, desde que o espaço abriu. Aos 29 anos, Thiago lembra de visitar o centro cultural com treze ou catorze e ficar encantado com aquele ambiente. No entanto, a sua sede pela cultura não se limitou a isso. Em 2011, ele e vários amigos da Brasilândia, território da Zona Norte de São Paulo, uniram-se para criar um coletivo de teatro – originando a SAMÁ Companhia de Teatro, que hoje em dia faz parte do organismo do CCJ.
Este grupo de Thiago sentia muita vontade de se envolver com o teatro, porém 2011 foi um ano complicado para a Brasilândia: a região sofreu com muitas enchentes e com a perda de espaços devido a elas. Não tinham onde praticar nesse primeiro momento – o que resultou em encontros nos fundos de uma igreja para as primeiras reuniões do que viria a ser a SAMÁ. “Ainda não tinha a Fábrica de Cultura na Brasilândia e o CCJ ainda estava muito longe para gente, não conseguíamos nem visualizar ocupar um espaço lá”, Thiago narra, sobre esse momento de criação de seu coletivo.
Sendo criada dentro da Brasilândia, a história do território e a identidade de seus moradores está entrelaçada com a SAMÁ – especialmente já que seus integrantes também moram na região. Isso traz a eles uma perspectiva nova, que levaram ao CCJ quando começaram a se apresentar lá. “Levantamos diversas pautas que a gente entende como periféricas, mas de uma visão de dentro”, afirma Thiago, “tentamos retratar o bairro como moradores dele”. Em 2015, o grupo apresentou um de seus espetáculos para o CCJ, um acontecimento que Thiago acreditava que fosse impossível, e desde lá, o coletivo tem ensaiado e feito peças no espaço, antes da pandemia.
A oportunidade de se apresentar e ensaiar no CCJ foi um sonho realizado para o coletivo de teatro, mas também foi uma maneira pela qual Thiago conheceu mais do espaço, inclusive estabeleceu uma conexão com Ingrid Soares, que viria a ser a coordenadora do espaço e sua gestora quando entrou no PJMC – tanto que comemoraram juntos seu ingresso como jovem monitor. Já familiarizado com parte do organismo do CCJ, Thiago ficou ainda mais chocado com o fato de que a equipe do espaço acreditava que teatro não trazia público para o centro cultural.
Sugerindo várias modificações no sistema teatral do Centro Cultural da Juventude, como a inclusão de ingressos, por exemplo, Thiago se dedicou a atiçar o teatro do espaço cultural. “Eu tinha uma outra visão, porque sempre que meu grupo ia fazer peça no CCJ, nós enchíamos a casa”, conta o jovem, continuando: “Não é que não tinha público, as pessoas do território não se conectavam à programação de teatro que era oferecida lá – o teatro tem público em qualquer lugar”. Com isso em mente, e a liberdade que sua gestora oferecia, Thiago conseguiu renovar o teatro do espaço cultural – criando um ambiente no qual ele e sua colega Isabella Lima do Nascimento conseguiram organizar um festival teatral com somente grupos da Zona Norte, e atraíram grande público.
Suas contribuições para o espaço, o apoio da equipe do CCJ e as demais lições que Thiago aprendeu no PJMC o motivaram a se candidatar para a posição de oficineiro. Sempre foi apaixonado pela educação, mas viu na cultura uma liberdade de expressão ainda maior – por isso se formou em teatro na FPA – Faculdade Paulista de Artes. Suas duas paixões se uniram quando ele descobriu a arte-educação, e, também, foi seu interesse por ter experiência nesse campo que o levou a se inscrever no edital de oficinas.
O jovem adiciona que uma das principais lições que o deram coragem e confiança de que ele poderia ocupar a posição de oficineiro foi a paciência e persistência. “Tem muitas pessoas que são artistas que acabam desistindo em frente às exigências e burocracia”, Thiago conta, acrescentando sua visão pós-PJMC: “mas hoje eu enxergo tudo muito mais acessível, muito mais simples e palpável”. Finalizando nossa conversa, ele reforça que persistir foi o segredo para sua contratação: “Muitas vezes nós desistimos muito rápido – mas o segredo para mim foi não desistir, não podemos desistir, foi assim que eu consegui a posição”.