Bailarina desde a infância e continuísta do Programa Jovem Monitor/a Cultural, Vitória Mbengue tem aprendido sobre outros aspectos da linguagem artística que escolheu como profissão
Por Maíra Brandão
Uma visita despretensiosa à uma exposição no Centro Cultural Olido, em 2018, rendeu muita conversa com uma Jovem Monitora Cultural (JMC) que trabalhava no espaço, à época, e acabou se convertendo no interesse da bailarina e arte-educadora, Vitória Mbengue, pelo Programa Jovem Monitor/a Cultural (PJMC). Em uma tentativa de resumir o percurso da aprendiz até o acesso a esta política pública, certamente foram omitidos nesta breve introdução vários percalços, etapas e obstáculos, mas o fato é que, na avaliação da própria jovem, esse caminho tem sido de muitas conquistas.
Pra quem se apresenta como “dançarina de berço”, pois desde os 5 anos de idade já sonhava em movimentar o corpo instigada pelos ritmos, ser selecionada para ingressar no PJMC, em 2019, e ainda atuar no Centro de Referência da Dança (CRD), foi uma realização. “Pra mim foi uma grande vitória, porque antes de ser JMC eu sou bailarina, atuo com dança e arte-educação, então, estar no CRD foi uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre um dos centros culturais que eu tanto amava e frequentava, e isso também foi muito importante pra minha carreira enquanto dançarina. Me ajudou bastante a entender um outro lado do fazer dança”, conta a Jovem.
A história de Vitória com o PJMC passou por um hiato, mas ela retornou. Atualmente com 25 anos, a jovem atua como continuísta no Centro Cultural São Paulo (CCSP), e tem curtido muito aprender junto ao seu “segundo centro cultural favorito da cidade”. A bailarina elogia o coordenador da Ação Cultural do CCSP, Ramon Soares: “Ele me ensina muito sobre resistência e sobre essa coisa de trazer o papel dos pedagogos que somos pra administrar bem a cultura, poder organizar tudo e fazer com que as pessoas consigam acessar os espaços culturais”.
Como referências importantes na sua trajetória, Vitória cita também a coordenadora do PJMC na Secretaria Municipal de Cultura (SMC), Juliana Gervaes, a dançarina Sylvia Aragão, e a gestora do Centro de Referência da Dança, Sulla Andreato. “A Sílvia e Juliana nem preciso falar muito porque elas são minha primeira identificação. São duas mulheres pretas poderosíssimas, fazedoras de cultura e arte, que me ajudaram muito a lidar até com algumas inseguranças que eu tinha, só por ser uma mulher preta, periférica e estar nesses espaços. E elas me mostraram que era lá mesmo que eu tinha que estar e era fazendo cultura que eu tinha que estar. Isso foi muito importante pra mim”, Mbengue continua, “Com Sulla eu aprendi sobre organização e pulso firme”.
As experiências vão construindo conhecimentos com o passar do tempo, mas uma das principais lições que Vitória tira do Programa Jovem Monitor Cultural tem a ver com o cuidado com as relações interpessoais. “Você precisa aprender a lidar com o público, tanto o que frequenta o Centro Cultural, que vai consumir arte, quanto lidar com o artista, fazedor de arte, lidar com os funcionários… Então acho que nesses quase dois anos que estou no programa, ouvir o outro e conversar para buscar a melhor solução são os maiores aprendizados. O quanto você ter paciência e uma escuta ativa pode te ajudar a resolver problemas e manter a sua comunidade unida. O PJMC tem me ensinado a ter autonomia e poder de comunicação”, reflete Vitória.
Além de pretender seguir estudando, como caminho para ser mais assertiva em suas decisões, Vitória Mbengue carrega consigo aspirações para o futuro legítimas de quem vive em um momento histórico, econômico e social tão complexo. “Meu maior sonho é conseguir estabilidade financeira e emocional através da minha arte. Quero viver bem, que não me falte nada tanto em aspectos de sobrevivência, ter o básico, pagar o aluguel, comprar comida… até conseguir acessar novos lugares com o que a dança me proporciona. Fazer uma viagem internacional pra estudar uma técnica diferente, com o dinheiro que eu consegui com um trabalho feito com dança. Esses são os meus sonhos… E claro, dançar com a Beyoncé”, responde Vitória, entre risos.